quinta-feira, 2 de junho de 2011

pré-lançamento do CD "CIRCO INCANDESCENTE" de GUNNAR VARGAS - SEXtA FEIRA NO CLARIÔ!!

Queridos, Sexta Feira as 21h temos um encontro marcado no ESPAÇO CLARIÔ para celebrar o PRÉ-LANÇAMENTO DO CD 
CIRCO INCANDESCENTE de 
GUNNAR VARGAS

O SHOW É IMPERDÍVEL E 
A ENTRADA É FRANCA!
Bora chegar cedo e garantir seu lugar!

Veja abaixo o lindo clip de sua música "MAIS UM SAMBA"
E NÃO ESQUEÇAM QUE A TEMPORADA DA PEÇA
"URUBÚ COME CARNIÇA E VÔA!" 
CONTINUA NO ESPAÇO CLARIÔ!
SÁBADOS AS 21H E DOMINGOS AS 20H. 
BORA CHEGAR, PORQUE SÓ TEM MAIS 3 SEMANAS!!!!

GRUPO CLARIÔ DE TEATRO 
informações/reservas
grupoclario@uol.com.br
11 9995 5416 / 11 9621 6892
www.espacoclario@uol.com.br

domingo, 29 de maio de 2011

"URUBÚ COME CARNIÇA E VÔA" - POR SALLOMA SALLOMÃO

CAROS, QUERIDOS... 
Nós aqui compartilhamos com alegria o texto que o prof. SALLOMA SALOMÃO escreveu sobre a visita que fez ao GRUPO CLARIÔ, na estréia de nosso novo espetáculo: "URUBÚ COME CARNIÇA E VÔA!!"
Documento publicado em seu blog: MOSAICO NEGRO NO BRASIL
Escrita generosa e muito, muito valiosa...
Muito obrigado Professor Salloma!

SEU OLHAR SOBRE URUBÚ:


"Não me leve a mal, mas tenho que contar o que vi. Sugiro que você também vá ver e ouvir.
Por Salloma  Sallomão.
Espaço Clariô na Periferia Zona Sudoeste de Sampa.
Trata-se de um grupo teatral que se apresenta lá, onde Urubu come carniça e voa.
Clareou , para o cantor e compositor nordestino Dimello era “quilariô, raiou o dia eu vi chover na minha horta, ai ai meu deus do céu quanto eu sofria ao ver natureza morta.” Em plenos anos 1970. Depois de cantar sua canção ao lado do radio de pilha, encontrei Dimello, Ivo, Vandré e o mestre dos tambores, saudoso Bira da Silva. Quilariô, isso aconteceu em 1979 nos confins das Gerais.
Situada no limite em Taboão da Serra e São Paulo, cunhada de ferro madeira na frente da casa, talhe nobre resistente, ponte de cultura ao invés de boteco ou Igreja.  Barracão de telhado nobre de Zinco no pé do morro. Morro do Cristo redentor. Redenção de quem? Bem ao lado de uma Casa de Santo, pintada de azul. Pra mim, isso é que é um bom presságio. Que na rua do Clariô, a Santa Luzia guarde bem seus olhos, o Clariô atente ao número 96, não é coincidência, é santuário festivo e profano de culturas híbridas.
O meu texto e o delas, talvez não sejam claros, o próprio dia não é totalmente claro. Mesmo um dia desses de sol é cheio de desvãos, de escuridão e de sombras. Enfim, nem tudo que parece claro, o é. Clariô então é negro, é negra, predominantemente áfrico, como uma deusa que vem do sudoeste enegrecendo a cultura artística do Atlântico negro expandido para a periferia.
Periferia era antes uma categoria geográfica, tudo que não era colônia Peri feria. Transformada em discurso político e agora é um território criativo. Criativo porque a megalópole é tensa e ainda cega, como era no início dos anos 1990, quando os pioneiros do Movimento Hip Hop construíram um discurso sonoro e poético vingador. Racionais e outros jovens negro-mestiços cunharam um outro modelo musical-comportamental e humanizaram a tal periferia, lugar da imagem construída como sendo do caos e da anomia. Foram eles que viram pessoas por detrás dos números das estatísticas da violência institucional e deram nomes para as “donas marias” de pele escura que viram (vimos) enterrando os filhos, amigos seus e meus, nas covas ralas do cemitério do Jardim do São Luis.
 Agora é reivindicada como espaço estético surge outra periferia. A mídia não nos via e quando via, era uma lente grossa demais que distorcia tudo, um véu tosco que impedia que vultos e vozes o atravessassem (Dubois). O racismo anti-negro é feito não só de barreiras concretas-físicas, mas acima de tudo da sobreposição de véus que turva a visão de ambos os lados.
Clariô vive teatro, ele faz  conexão é com Recife grande, não com as praias pra turistas, mas os arredores dos arrecifes. Lixão, onde os “urubus passeavam entre os girassóis” e seres humanos abandonados ali. O texto não, mas a interpretação costura, cinge, religa memórias, histórias e ficções de Miró de Muribeca. Ele batizado João Flávio Cordeiro, poeta é pessoa completa e sã, pelo que dizem os textos. A ponte é feita entre contextos tão similares e distantes. Recife-Taboão da Serra.
A luz é econômica, o figurino adequado. O cenário coerente e o ritmo de tudo não é lento, mas me ajuda desacelerar o coração já metropolitano em demasia. A ponte é feita por um elenco enxuto de três belíssimas atrizes, mulheres jovens e dois atores quase berberes, em minhas miragens de áfricas. Resumindo são todos negros  em vários tons, isso por si só já é um tremendo deslocamento se pensarmos na “Negação do Brasil”(Joelzito Araujo) ou na longínqua emergência do Teatro Experimental do negro. Quero dizer, prota- agonismo negro em um lugar, onde o teatro tem sido lugar quase exclusivo de branco.
O texto começa onde termina e bem no meio parece que não voltará jamais, a não ser pela alusão à noite, ao beco escuro, a constatação da violência como cultura. Mas ela, a violência endêmica, não aparece para despertar lamurias, figura também como ponte a elaboração estética. O texto falado em costura não desenreda, abre flancos, picadas e apenas entabula os fragmentos discursivos e reflexivos e um tempo, uma experiência, uma visão do mundo, tal como ele se apresentou ao poeta.          
 A música de Di Ganza insinua pontes com o grupo Armorial, mas apenas isso, não tem aquela presunção de vanguarda iluminista. O autor figura no campo de novas criatividades e musicalidades negras paulistanas, traz a ambigüidade do atlântico negro ainda em processo aqui. Di Ganzá vem cheio de gás e idéias, vem sem medo de se expor. Depois é que virá a coisa da dinâmica na execução, no ajuste da afinação das cordas friccionadas em contraste com a flauta transversa. Mas as melodias delicadas estão lá, as cadências sem engano, os contrapontos refinados, aqui e ali algum tambor.
Eu vi Arena Conta Zumbi no interior de Minas em 1969 apenas com atores negros, também vi União e Olho Vivo no parque Santo Antonio (1976), pude assistir o Galo de Briga no Grajaú (1979). Vi teatro popular Maculelê-Maracatu escrito e montado por capoeiristas da Corrente Libertadora no Sindicato do Químicos e no largo do São José. Por conta disso que assisti perplexo a emergência do Teatro Vocacional Frateschiano em São Paulo em 2000. Foi esse o último projeto que partia da velha e desgastada idéia que o popular (povo) é um lugar vazio a ser preenchido pela cultura dominante.  Aprendi sobre os exemplos do Armorial dentro de um projeto nacional-modernista e do Cpcs que vinha marcado por um viés missionário e catequético, salvacionista e elitizado. Mas o que acontece agora é um fenômeno de outra ordem.  A exemplo de outros grupos como Capulanas Cia de Artes Negras, o trabalho do Clariô é nitidamente político sem ser panfletário e é negro sem dizer que quer ser.
Em palestra realizada na USP em 1973, Roger Bastide (publicado em Bastide, Roger. Sociologia do teatro negro brasileiro. São Paulo: Ática, sd), apontava a origem do teatro negro nas coroações de Reis Congos, nas festas de Congada, nos Ritos de Candomblé e na Festa do Bumba meu Boi, conquanto criticasse a caricatura e folclorização. Também preconizava o surgimento de um teatro popular negro no Brasil sob os escombros da cultura dramatúrgica ocidental burguesa, cuja narrativa havia perdido justamente sua criatividade, por se desconectar da matriz popular.  
Viva Clariô, ainda que ponha fogo no pé do redentor. Labaredas!!!!!pedra também pega fogo???? Vai lá, vai ....."
Bjs
Salloma
Salloma Salomão, porfessor da FSA-SP, Produtor Cultural, Músico e Historiador. Pesquisador financiado pela Capes e CNPQ, ivestigador vistante do Instituto de Ciências Socais da Universidade de Lisboa. Orientações de dra Maria Odila Leite da Silva, Dr José Machado Pais e Dra Antonieta Antonacci. Lançou trabalhos artíticos e de pesquisa sobre musicalidades negras na diáspora. Segue curioso pelo Brasil e mundo afora atrás do rastros da diápora negra.
 BLOGS: 
MOSAICO NEGRO NO BRASIL:  http://mosaiconegrobras.blogspot.com/ 
ARUANDA MUNDI: http://aruandamundi.ning.com/

URUBÚ COME CARNIÇA E VÔA
GRUPO CLARIÔ DE TEATRO 



Finais de semana - 
sábados as 21h e domingos as 20h -  
no Espaço Clariô


FICHA TÉCNICA:
Escritos crônicos: Miró de Muribeca
Direção : Mário Pazini
Atores/criadores:
Alexandre Souza, Diego Avelino,Martinha Soares, Naloana Lima e Naruna Costa.
Ator Convidado: Washington Gabriel
Dramaturgia: Grupo Clariô de Teatro
Assessoria dramatúrgica: Will Damas
Cenário: Alexandre Souza (João) e Mário Pazini
Figurinos e adereços: Martinha Soares e Naruna Costa
Iluminação: Will Damas
TRILHA DA PEÇA:
Composição: Di ganzá e Naruna Costa
Interpretação: Orquestra de Caboclos
(violibeca: Di ganzá, Flauta: Adriana Mello e contrabaixo: Luís Vitor Maia).

informações
grupoclario@uol.com.br
11 9995 5416
11 9621 6892

“Projeto realizado com o apoio do Governo do Estado de São Paulo, Secretaria do Estado da Cultura, Programa de Ação Cultural/2010”