SAUDAÇÕES!
Que saborosa foi nossa curta e grossa temporada de "URUBÚ COME CARNIÇA E VÔA!" no Espaço Clariô!!
Um filhote ainda frágil, acabado de sair do ovo, mas que ao passar dos dias foi se fortalecendo e criando coragem para alçar os primeiros vôos. E agora sai do ninho pra conhecer novos céus, ainda que próximos ao lar...
Vamos circular durante o mês de junho e julho com o espetáculo e logo que dê (provavelmente no final de agosto), retornamos a casa para uma nova e novamente curta temporada!
Aqui, deixamos a imensa gratidão do GRUPO CLARIÔ à todos os que foram visitar nosso URUBU, que compartilharam conosco as palavras de MIRÓ, que nos ajudaram e ajudam na caminhada... Muito obrigado, muito obrigada!
Agradecendo muito e muito mesmo, a generosidade desse escritor de MURIBECA, que mesmo sem ainda ter tido a chance de ver o trabalho, tanto torce quanto apóia e vibra com o projeto!
MIRÓ, é sobre você que falamos e à você que oferecemos esse nosso vôo, essa nossa empreitada! Sabemos o quanto gostaria de estar aqui nesses dias que passaram, mas mesmo não estando de corpo presente, tua alma e tua história estiveram conosco e por nós representadas, a cada palavra, a cada passo. Muito obrigada! Muito obrigado! SALVE SALVE SARAVÁ!
Salve também aos que generosamente nos ofereceram suas palavras e impressões sobre o que viram e sentiram em nossa casa nesses dias que passaram...
Forte abraço do GRUPO CLARIÔ DE TEATRO.
AXÉ!
Vejam abaixo algumas manifestações:
Eu queria ser um urubu
por André Persant (ator/cidadão)
"Pra começar a falar sobre minha experiência com a peça “Urubu come carniça e vôa”, cito uma pequena curiosidade que alegrou e alimentou minhas ideias: o fato de terem deixado que eu entrasse no local do espetáculo tomando minha latinha de cerveja. Que maravilha! Parafraseando o (também) pernambucano Francisco de Assis França, ou simplesmente Chico Science, “Uma cerveja antes do almoço (peça) é muito bom pra ficar pensando melhor”. E assim fui eu, pronto para o espetáculo.
Como não sou crítico (muito menos intelectual) e sim ator, costumo medir o quanto gosto de uma peça pela vontade que vou sentindo ao longo da obra de participar ativamente dela, ou seja, atuando. Em “Urubu...” essa vontade foi latente em mim a cada fragmento da obra. Eu desejava manusear um dos coloridos guarda-chuvas de frevo, gostaria de fazer uma cena naquela rede, com as bolinhas de sabão caindo (que linda cena e iluminação), gostaria de repetir o texto do menino que riu e foi abordado pela polícia, ai como eu queria ser um urubú. O que vi foi uma obra tão bem acabada e tão viva que a única coisa que eu pensava era, “porra, como eu queria fazer essa peça”. Apesar de não ser músico, adoraria tocar alfaia em algum momento da peça, nem que fosse só pra entrar, bater e sair. Já ficaria contente.
Falando agora como um cidadão suburbano é cortante vê, por meio do texto, que o tratamento dado ao “periférico” é o mesmo ao longo do país. Que essas periferias estão tão longe e ao mesmo tempo tão perto. Perto na dor e na luta pela dignidade, expressas através da arte. Linda arte. Acho que mesmo tratando de temas tão pesados, a direção conseguiu deixar a encenação leve e (até) alegre, como o frevo. Texto e encenação são grandiosos e me senti representado, tanto como artista e também como cidadão. Valeu Clariô. E meus sinceros PARABÉNS!"
POR SIVA NUNES e ROBERTO GOTTS -
(publicado no facebook do grupo Clariô de Teatro)
SIVA NUNES: "Grupo Clariô de Teatro com Urubu Come Carniça e Voa. Há muito tempo que não saio tão emocionado de um espetáculo feito com graça, raça, talento e beleza! Vocês iluminaram minhas ideias e em fez acreditar, mais uma vez, que é possível fazer teatro da melhor qualidade, em todos os aspectos, dentro de nossas regiões. Não tenho mais para quem agradecer. Dionísiôô, abençõe essa trupe! Merda eterna!"
Roberto Gotts "Um espetáculo que termina com aplausos incontroláveis, intermináveis, é um espetáculo que dignifica o TEATRO, a ARTE! Visagismo impecável, direção criativa que a tempo não via. Atores amantes e amáveis. Pessoas que se dizem de teatro: saiam do se conforto e vão aprender algo com o GRUPO CLARIÔ. Por fim: meu imposto está muito bem empregado com eles! CLARIÔ, CLAREAI OS NOSSSOS PALCOS SEMPRE!!!"
Siva Nunes "Eu mesmo fiquei aplaudindo mais de 5 min freneticamente e o povo não queria parar de aplaudir... foi um momento mágico!"
TRAGEALEGRIA
POR: MARCELINO FREIRE
no site www.marcelinofreire.wodpress.com
Foi Suzana quem tirou esta foto.
- É o máximo!
Aí eu contei a história para ela.
De quando conheci o grupo, no b_arco.
Naruna Costa – que está sentada, fazendo sinal de paz e amor – interpretou uma canção do Chico César.
Eu estava com o Chico e a gente ficou pasmo – ela cantava Beradêro. Como ninguém. Aí a gente foi dar os parabéns.
Mário Pazzini, na foto idem, disse que eles estavam começando um grupo, sob direção dele, em Taboão da Serra. Dei de presente, àquele mesmo dia, o livro Contos Negreiros.
Eles me procuraram, uns meses depois. Iam levar meus contos ao palco. Fiz, à época, uma visita à sede do Clariô - um sobrado que, quando montaram a peçaHospital da Gente, foi transformado, cenicamente, em um impressionante favelão.
O título Hospital da Gente, aliás, saiu daquela música do Chico. Até hoje, apresentam a peça por aí, sempre com muito sucesso.
Mas, enfim. Eu estava falando da Suzana – e de que fomos, juntos, ver a nova montagem, a Urubu Come Carniça e Voa.
- É da porra!
Mário é um diretor foda! Conseguiu costurar as poesias do Miró em um espetáculo vigoroso, colorido - uma verdadeira tragialegria (expressão inventada agora, por mim – mistura de tragédia com alegria).
Está bem diferente do Hospital – e creio que melhor. Porque o grupo se superou em interpretação, entrega, amadurecimento gostoso de ver. Um clássico, posso dizer. Vi uma peça clássica, feita com entusiasmo raro. E raça.
Como adoro essa turma!
Hoje, no mesmo local do sobrado, levantaram um galpão – fruto de esforço, teimosia, talento, trabalho.
Deixo, aqui, o meu abraço emocionado a todo o elenco.
E o recado a você, aí do outro lado. Não deixe de assistir.
Para saber mais, clique aqui.
E mais não digo. Fui ali e já volto.
E outros beijos lambidos.
- Eca, é, Meu Cristo!"
Clariô redentor
POR: SALLOMA SALLOMÃO no blog: MOSAICO NEGRO BRASILEIRO
"Não me leve a mal, mas tenho que contar o que vi. Sugiro que você também vá ver e ouvir.
Por Salloma Sallomão.
Espaço Clariô na Periferia Zona Sudoeste de Sampa.
Trata-se de um grupo teatral que se apresenta lá, onde Urubu come carniça e voa.
Clareou , para o cantor e compositor nordestino Dimello era “quilariô, raiou o dia eu vi chover na minha horta, ai ai meu deus do céu, quanto eu sofria ao ver natureza morta.” Em plenos anos 1970. Depois de cantar sua canção ao lado do radio de pilha, encontrei Dimello, Ivo, Vandré e o mestre dos tambores, saudoso Bira da Silva. Quilariô, isso aconteceu em 1979 nos confins das Gerais.
Situada no limite em Taboão da Serra e São Paulo, cunhada de ferro, com madeira na frente da casa. De talhe nobre e resistente, ponte de cultura ao invés de boteco ou Igreja. Barracão com telhado frio-quente de Zinco, fincado no pé do morro. Morro do Cristo redentor. Redenção de quem? Bem ao lado de uma Casa de Santo, pintada de azul. Pra mim, isso é que é um bom presságio. É que lá, lá na rua do Clariô, a Santa Luzia guarda bem seus olhos, para quando clarear. O grupo Clariô atente ao número 96, não é coincidência, é santuário festivo e profano de culturas híbridas.
O meu texto e o delas, talvez não sejam claros, o próprio dia não é totalmente claro. Mesmo um dia desses de sol é cheio de desvãos, de escuridão e de sombras. Enfim, nem tudo que parece claro, o é. Clariô então é negro, é negra, predominantemente áfrico, como uma deusa que vem do sudoeste enegrecendo a cultura artística do Atlântico negro e o expandido para a periferia.
Periferia era antes uma categoria geográfica, tudo que não era colônia Peri feria. Transformada em discurso político e agora é um território criativo. Criativo porque a megalópole é tensa e ainda cega, ( minha Santa luzia) como era no início dos anos 1990, quando os pioneiros do Movimento Hip Hop construíram um discurso sonoro negramente esclarecedor e poético vingador. Racionais e outros jovens negro-mestiços cunharam um outro modelo musical-comportamental e humanizaram a tal periferia. Antes imagem que lugar construído como sendo do caos e da anomia. Foram eles quem nos viram pessoas por detrás dos números das estatísticas da violência institucional e deram nomes para as “donas marias” de pele escura que viram (vimos) enterrando os filhos de vidas ralas, amigos seus e meus, nas covas razas do cemitério do Jardim do São Luis.
Aquele lugar agora é reivindicado como espaço iamginário-estético surge outra periferia cuja ética somos portadores. A mídia não nos via e quando via, era uma lente grossa demais que distorcia tudo, um véu tosco que impedia que vultos e vozes o atravessassem (Dubois). O racismo anti-negro é feito não só de barreiras concretas-físicas, mas acima de tudo da sobreposição de véus que turva a visão de quem olha de ambos os lados.
Clariô vive teatro, ele faz conexão é com Recife grande, não com as praias pra turistas, mas os arredores dos arrecifes. Lixão, onde os “urubus passeavam entre os girassóis” e seres humanos abandonados ali. O texto não, mas a interpretação costura, cinge, religa memórias, histórias e ficções de Miró de Muribeca. Ele batizado João Flávio Cordeiro, poeta é pessoa completa e sã, pelo que dizem os textos. A ponte-poesis é feita entre contextos tão similares, quanto distantes. Recife-Taboão da Serra.
A luz é econômica, o figurino adequadamente feito de sobras e reaproveitamentos. O cenário coerente em ferro e madeira. O ritmo de tudo não é lento, mas me ajuda desacelerar o coração, já metropolitano em demasia. A ponte é feita por um elenco enxuto de três belíssimas atrizes, mulheres jovens e três atores quase berberes, em minhas miragens de áfricas e raças. Resumindo são todos negros em vários tons, isso por si só já é um tremendo deslocamento, se pensarmos na “Negação do Brasil”(Joelzito Araujo) ou na longínqua emergência do Teatro Experimental do negro (Abdias é morto centenário). Quero dizer, agora é um prota- agonismo negro sem um lugar, onde o teatro tem sido lugar quase exclusivo de branco.
O texto começa onde termina e bem no meio parece que não voltará jamais ao centro, a não ser pela alusão à noite, ao beco escuro, a constatação da violência como cultura. Mas ela, a violência endêmica, não aparece para despertar lamurias, figura também como ponte a elaboração estética. O texto falado em costura (quase jogral) não desenreda, abre flancos, picadas e apenas entabula os fragmentos discursivos ( luz e sombra, música e silêncio, oralidade e silêncio, movimento e coreografia, cenário, figurino) e reflexivos e um tempo, uma experiência, uma visão do mundo, tal como ele se apresentou ao poeta.
A música de Di Ganza insinua pontes com o grupo Armorial, mas apenas isso, não tem aquela presunção de vanguarda iluminista nordestina. O autor figura no campo de novas criatividades e musicalidades negras paulistanas, traz a ambigüidade na aparência e ambivalência no som, eu o coloco no oceano do atlântico negro, ainda em processo aqui. Di Ganzá vem cheio de gás e idéias, vem sem medo de se expor. Depois é que virá a coisa da dinâmica na execução, no ajuste da afinação das cordas friccionadas em contraste com a flauta transversa. Mas as melodias delicadas estão lá, as cadências sem engano, os contrapontos refinados, aqui e ali algum tambor, como uma memória quase remota da afrorigem.
Eu vi Arena Conta Zumbi no interior de Minas em 1969 apenas com atores negros, também vi União e Olho Vivo no parque Santo Antonio (1976) só de brancos, pude assistir o Galo de Briga no Grajaú (1979) em sotaque italiano e brados operários. Vi teatro popular Maculelê-Maracatu escrito e montado por capoeiristas da Corrente Libertadora no Sindicato do Químicos e no largo do São José. Por conta disso que assisti perplexo a emergência do Teatro Vocacional Frateschiano em São Paulo em 2000. Foi esse o último projeto que partia da velha e desgastada idéia que o popular (povo) é um lugar vazio a ser preenchido pela cultura dominante. Aprendi sobre os exemplos do Armorial dentro de um projeto nacional-modernista e dos Cpcs que também vinha marcado por um viés missionário e catequético, salvacionista e elitizado. Mas o que acontece agora é um fenômeno de outra ordem. A exemplo de outros grupos como Os Crespos e Capulanas Cia de Artes Negras, o trabalho do Clariô é nitidamente político sem ser panfletário e é negro sem dizer que o quer ser.
Em palestra realizada na USP em 1973, Roger Bastide (publicado em Bastide, Roger. Sociologia do teatro negro brasileiro. São Paulo: Ática, sd), apontava a origem do teatro negro nas coroações de Reis Congos, nas festas de Congada, nos Ritos de Candomblé e na Festa do Bumba meu Boi. Conquanto criticasse a caricatura e folclorização do negros, ao que me parece apontava um caminho a seguir e não um passado a velar. Também preconizava o surgimento de um teatro popular negro no Brasil sob os escombros da cultura dramatúrgica ocidental burguesa, cuja narrativa havia perdido justamente sua criatividade, por se desconectar de sua matriz popular.
Viva Clariô, ainda que ponha fogo no pé do redentor. Labaredas!!!!!pedra também pega fogo???? Vai lá, vai ..... via Santa Luzia 96, um galpão de preto forro, ao lado daquela casinha de Umbanda. Salve a Provincia do Bengo, auê Thimbanda, Quimbanda Auê!."
Bjs
Salloma
Nenhum comentário:
Postar um comentário