O mito de Medéia é o eixo central que é recortado em estruturas de dança, canto, rituais, comida e emoções sensoriais. No espetáculo é servido um banquete e o público é convidado a experimentações gustativas através do paladar e do olfato. Além disso, experiências de corpo em transe e o conceito de jogo sobrepondo a cena são a base deste espetáculo. O espetáculo é a predominância do jogo essencial, onde os atores não possuem cenas definidas, mas jogos e regras estabelecidas em um itinerário de energias. Por fim, o espetáculo restabelece o mito clássico transformando a tragédia em um ritual de celebração.
CURRA – TEMPEROS SOBRE MEDÈIA é um espetáculo festa e é isso que propomos: Celebração. Encontro entre as pessoas. Ritual. Música. Comida. Dança. Teatro. Circular este espetáculo é criar ferramentas e ambiente necessário para que isso possa acontecer. “É um espetáculo pra se sentir. Um banquete antropofágico repleto de cantos, danças e boa comida”. O mito da Medéia está lá, mas não é a tragédia grega muito menos uma tragédia é apenas uma confraternização de sentidos que acontece nos ritos e manifestações populares.
É um espetáculo transe e transitório. Isso porque é fruto de inquietação estimulado pelas crises sobre o papel da própria arte e o que está em cena é resultado sim das pesquisas e treinamentos quase obsessivos, mas também das nossas relações com nossa cidade e com o mundo. Entender nossas identidades e transformar isso em festa e teatro é devolver a quem nos deu algo e quem nos vê uma transformação ou no mínimo uma experiência de compartilhação.
creditamos que o projeto artístico não se limita ao espetáculo, mas propõe diálogos com a comunidade, com outras linguagens e outros parceiros. Ampliar isso é o efeito natural do processo. Assim, é uma necessidade neste momento circular, enfrentar outros territórios e dialogar a partir desses territórios a nossa transformação. Relacion
ar, estimular, provocar e ser provocado é a experiência da criação que estamos buscando neste projeto. Todas essas inquietações não possuem respostas porque é fato que estamos em busca de perguntas e elas certamente terão respostas múltiplas.
O espetáculo é isso:“festejar as dores para que elas virem açúcar”.CONTADORES DE MENTIRA
Contadores de Mentira é um grupo forte enraizado em Suzano. Tem um público cativo, e por ser pioneiro nas questões criativas e nos movimentos organizados da região do alto Tietê, não abre mão de continuar suas pesquisas e atividades em sua “residência”. Mas há sim um forte diálogo criativo acontecendo de forma sistemática fortalecendo a casa das relações e da experimentação com outros parceiros. Uma das necessidades deste projeto é expor as pesquisas que os Contadores desenvolvem ao longo de treze anos, uma necessidade de dizer para outras esferas que Suzano possui um teatro fortalecido, resistente e preocupado com questões ritualísticas e de identidade de uma região.
Contadores de Mentira 15 anos
Este texto talvez se iniciasse de muitas formas, muitas tentativas de descrever o que significa completar 15 anos de atividade. Mas este cálculo é subjetivo. O importante é contextualizar o momento, o lugar e o conceito pra se entender por onde o grupo Contadores de Mentira trava suas lutas, suas parcerias, sua inquietações e seu esforço operário. Este projeto é uma celebração desses quinze anos de atividade ininterruptas, evolutivas e provocativas. É um grupo de identidade e compromisso histórico na cidade de Suzano, pois agrega valores que vão além das relações de uma carreira teatral, pois é atuante nas culturas populares, nas relações que uma comunidade pode ter com o trabalho artístico. É atuante em discussões, organizações, em questões políticas e em assuntos que permeiam as identidades históricas culturais. Este grupo não completaria 15 anos não fosse sua identidade com a cidade em que atua e, também, nas relações criadas ao longo desse tempo. Os Contadores de Mentira tem o orgulho de dizer que participaram de quase todos os movimentos culturais da cidade de Suzano e Região do Alto Tietê. Participa ativamente de coletivos, organiza debates, propõe soluções e abre caminhos para a formação da cidade. Os Contadores de Mentira atuam sim no teatro, mas abrem caminho para outras comunicações e nas relações com o lugar onde produzem: atua em cultura popular, realiza cortejos de brincantes, lançou uma TV Comunitária de WEB denominada TV CONTADORES DE MENTIRA, premiada no Prêmio Pontos de Mídia Livre do Programa Mais Cultura /Cultura Viva do Ministério da Cultura com a comunidade.
Assim, esse projeto quer dizer algumas coisas, e entre as provocações possíveis está um espetáculo que precisa circular. Que quer abrir relações com outras cidades. Que quer criar as idéias de ponte e antes ainda da ponte, a idéia de TRAVESSIA entre fazedores. A proposta aqui é o de circular um espetáculos que denominamos FESTA, porque é pelo festejo que pretendemos confraternizar a filosofia, a comida, as idéias, as brigas, o corpo, a criação, as imanências.
E como estamos falando de números também, optamos pelo ato simbólico: realizar 15 apresentações em 15 cidades diferentes. Importante ressaltar que somos um grupo que opta pelas raízes e identidade na cidade de Suzano. Há aqui um movimento excepcional de qualidade, e queremos propor esta transição. Somos organizados e articulados no sentido do crescimento cultural e a fase agora é identificar e sistematizar historicamente nossos símbolos e nossas conquistas. Assim, tentando simplificar o discurso a idéia deste projeto é identificar a cidade de Suzano no mapa criativo das artes cênicas.
Suzano precisa ser visto, precisa ser ouvido e possui questões, indagações, provocações e construção artística para isso. O que queremos é abrir o caminho e e essa a construção a partir desse projeto.
FICHA TÉCNICA
Direção e dramaturgia: Cleiton Pereira
Elenco: Ailton Barros, Cleiton Pereira, Daniele Santana,
Drico de Oliveira, Camila Rafael
Atores Pajens Cozinheiros: Ailton Ferreira e Soraia Amorim
ASSISTENTE TÉCNICO: PRISCILA KLESSE
Figurinos: Ailton BarrosConcepção de Arte: Contadores de Mentira
Direção e Composição Musical: Meyson e Juá de Casa Forte
Designer Gráfico: Daniele Santana
Iluminação: Taciano L. Holanda
CONTADORES DE MENTIRA – desde 1995
Os Contadores de Mentira são na história do teatro em Suzano, os pioneiros históricos de um movimento hoje fortalecido. Primeiro grupo a adotar Suzano como “residência” construiu uma trajetória de resistência e proponência artística na Região do Alto Tietê. Está presente nos movimentos organizados e na relação com a cidade. O teatro dos Contadores é o estudo do ritual, do corpo, da dança, da festa, da música, da crítica, do indivíduo, da sociedade, da cultura popular, do teatro e danças orientais, dos mitos, da história e da criação. É um grupo que confia que o projeto é sempre mais importante que um resultado isolado, que investe em pesquisas e treinamentos sempre com colaboradores e que não consegue ficar satisfeito com um espetáculo pronto, que acredita que é preciso refazê-lo, distorcê-lo até achar o que chamam de jogo essencial. Um grupo que se organiza, que briga, que luta, que faz política e que produz dúvidas e diálogos criativos.
A ação dos Contadores de Mentira é ramificada em oficinas, pesquisas e produção de espetáculos, ações de cultura popular como carnaval, festejos, encenações e um trabalho de “brincantes”. Ao longo desses 15 anos de atividades foram realizados 08 espetáculos pelo núcleo de pesquisa e outros 11 pelo núcleo de oficinas. Um dos projetos do grupo em atividade é a TV CONTADORES DE MENTIRA, um formato de Mídia Livre que presta serviços e ações à comunidade bem como um ponto de encontro e circulação de atividades artísticas. Para, além disso, ações organizadas e atitude em movimentos culturais não apenas de teatro mantém o grupo em atividade desde 1995.
O MOVIMENTO DE TEATRO DE SUZANO -
um teatro que não é só para distrair
Falar do movimento de teatro em Suzano é entender que o teatro nesta cidade assumiu o seu papel de incomodar, inquietar, provocar e devolver às pessoas a liberdade de imaginação e de julgamento. É bom entender que o movimento de teatro já existia e se organizava há tempos, e os Contadores de Mentira atuam desde 1995 ocupando espaços, provocando um fazer teatral a partir da identidade que a cidade possuía. Foi a partir de um pensamento sobre a formação artística sedimentado sob a responsabilidade histórica que se possibilitou os meios, as ferramentas e o ambiente necessário, para que o movimento teatral explodisse no melhor sentido da criação.
Em 2002 com o surgimento da APAC – Associação Paulista de Artes Cênicas, organização criada pelos Contadores de Mentira e outros artistas de teatro, cinema, literatura e artes plásticas. Logo em seguida, com espaço próprio foi possível abrir caminho para temporadas longas e pesquisas mais profundas.
Quando a primeira Mostra de Referências Teatrais aconteceu em 2005, o panorama ainda era o de mergulhar no novo ou nas novidades criativas da qual não tínhamos acesso. O conceito desta mostra é o da ousadia e provocação e, sobretudo da “referência”, pois os grupos são convidados por sua excelência artística, identidade cultural, pesquisas desenvolvidas e capacidade de organização. Grupos de prestigio nacional como Cia. do Latão, Fraternal, São Jorge, Lume, Parlapatões, Cia. Livre, La mínima, Espanca, Núcleo Bartolomeu de Depoimentos, Folias D’Arte, Boa Cia., entre muitas outras participaram dessas edições da Mostra que se tornou um evento de grande prestigio dentro e fora do município de Suzano.
Com foco na necessidade que a região tinha de entrar em contato com novas perspectivas de criação surgiram projetos de formação consolidadas na experiência de olhar, refletir e tomar atitude. A retomada da cidade e a reconstrução (ou construção) das primeiras linhas de um movimento artístico tornaram Suzano, antes de qualquer coisa, um pólo de realizadores preocupados com sua obra e as conseqüências dos seus discursos artísticos. Grupos se organizaram em coletivos, explosões criativas e decepções andaram lado a lado de uma certeza de que o tempo gasto em processo é, quase sempre, mais importante que o produto final, mas, que esse mesmo produto é necessário para justificar o processo. O panorama mudou rápido e a cidade passou a questionar-se e buscar saídas além do comodismo. Artistas passaram a localizar sua cidade e sua relação com ela. Encenações mais críticas e com identidades próprias tomaram frente não só no município, mas circulando idéias em outras regiões.
Suzano optou pelo seu teatro: Um teatro voltado ao colaborativismo, a processos dramatúrgicos próprios, a estéticas preocupadas com seu meio e não necessariamente voltado às necessidades mercadológicas. Hoje o tempo é de consolidação. Sempre será necessário romper e implantar novos caminhos.
O movimento já faz suas batalhas por leis e editais de fomento. Os grupos daqui já circulam, com força em outros eixos. O teatro de Suzano, e por consequência e por luta, também o teatro dos Contadores de Mentira, vai ao contra fluxo do gosto médio e briga pela liberdade de criação.
É isso aí gente, dia 13 de março
bóra prestigiar e trocar com nosso povo!
Viva!!
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